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Agentes da paz

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“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5:9)

Quando falamos de pacificadores, pensamos naquelas pessoas que vivem para resolver conflitos. Mas nesse texto, eu gostaria de desafiar você a expandir a sua mente no entendimento da palavra pacificadores. Vamos ver o que esse texto nos revela e como podemos crescer e aplicá-lo à nossa vida como uma realidade de fé.

Jesus proferiu essas palavras no famoso Sermão do Monte, ocasião na qual ele reuniu os discípulos e o povo e começou a ensinar. O texto é relatado no início do Evangelho de Mateus e mostra seus ensinos. Nesse início de ministério, o Mestre deu continuidade à pregação de João Batista acerca do Reino de Deus que estava chegando. Logo, a tônica da sua pregação de Jesus era a chegada do Reino dos céus.

Jesus inicia o seu sermão através de declarações às quais nós chamamos de as bem-aventuranças. “Bem-aventurado” é alguém mais que feliz, abençoado de fato. Jesus está declarando uma realidade acerca do Reino em comparação com a realidade atual que aquelas pessoas viviam no momento em que as suas palavras foram proferidas. Assim, para entendermos seu discurso, temos que entender que ele está falando a respeito de uma realidade futura a ser vivida no Reino, futura para os seus ouvintes da época e presente para cada um de nós hoje.

O Senhor disse: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados [no Reino]. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos [no Reino].” Os acréscimos que acabei de fazer ao texto não são para distorcer as Sagradas Escrituras, mas para mostrar a você a ênfase que Jesus está dando no contraste entre o Reino que estava para vir e a vida que aquelas pessoas viviam.

Em Lucas, capítulo 17, quando interrogado pelos fariseus acerca de quando viria o Reino de Deus, Jesus lhes respondeu: “O Reino de Deus não vem com visível aparência, nem dirão: ‘Ei-lo aqui!’ ou ‘Ei-lo ali!’, mas o Reino de Deus está dentro de vós.” Alguns dizem que a melhor tradução para esse texto seria “no meio de vós” ao invés de “dentro de vós”, mas isso pouco muda no sentido doutrinário. A realidade do Reino de Deus se manifesta em nós no momento em que recebemos Jesus como nosso Senhor, juntamente com o Seu Espírito Santo, que passa a habitar em nosso interior como evidência do Reino. Dessa forma, Jesus revela nesta passagem que todos os que creem n’Ele já estão integrados ao Reino de Deus.

O Apóstolo Paulo diz: “Ele nos tirou do império de trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1:13). Aqui fica claro que quando recebemos Jesus, somos tirados do império das trevas e levados para o Reino de Deus, o Reino do Filho do seu amor, que é nada mais nada menos que o Reino de Cristo. Assim, precisamos entender que embora o Reino físico de Jesus sobre esta terra ainda vá se manifestar num futuro, e não nos pertence saber quando será, precisamos também entender que o seu Reino já está estabelecido dentro de cada um que o recebeu como Salvador.

Por que isso é importante? Porque o Reino ao qual você pertence determina as regras sob as quais você vive. Se estamos no Reino de Deus, podemos viver sob as suas regras. Isso significa que devemos seguir as suas regras no tocante a tudo o que for lícito ou ilícito para fazermos. Cabe a nós, por exemplo, andarmos em espírito e evitarmos as obras da carne (Gálatas 5:16-21). Também significa que as leis do Espírito de vida são aquelas que regem a nossa vida. Assim, a saúde, a provisão e a cura do Reino estão disponíveis para cada um de nós, be como o amor do Rei e o seu poder e a sua graça. Então, não vamos viver como se estivéssemos ainda presos aos reinos das trevas. Não! Vamos ajustar a nossa mente para viver de acordo com as regras do Reino de Deus.

Mas você pode me perguntar: o que isso tem a ver com os pacificadores? É interessante notar que a palavra traduzida como “pacificadores” no texto original grego é εἰρηνοποιοί (eirênopoioí), que deriva de εἰρήνη (eirênê), significando “paz”, e ποιέω (poieô), que significa “fazer” ou “criar”. Literalmente, trata-se de “fazedores de paz” ou “promotores de paz”. Essa expressão vai além da simples resolução de conflitos ou da tentativa de evitar desavenças a todo custo, como é comum em nosso conceito ocidental de pacificador. Refere-se a alguém que, ativamente, cria e promove uma paz completa e abrangente, que não se limita à ausência de guerra ou conflitos. E se eu lhe disser que o significado dessa palavra é ainda mais profundo?

Para entendermos o significado de pacificadores, é essencial compreender o conceito de paz. Jesus disse: “Eis que vos dou a minha paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá” (João 14:27). Aqui, Jesus estabelece uma clara distinção entre a paz que Ele oferece e a paz do mundo. Historicamente, o período em que Jesus viveu era conhecido como a Pax Romana. Essa “paz” era caracterizada pela ausência de guerras significativas dentro do vasto Império Romano, sustentada pelo poder militar esmagador de Roma, que intimidava adversários e sufocava revoltas. Essa era uma paz imposta pela força, pelo domínio bélico, e estava longe de ser a paz plena que Jesus pregava.

Embora o texto do Evangelho de Mateus tenha sido escrito em grego — a língua franca da época, utilizada para ampliar o alcance e a difusão da mensagem do evangelho —, é bastante provável que Jesus tenha proferido Suas palavras em aramaico, a língua cotidiana dos judeus na Palestina do primeiro século, ou possivelmente em hebraico, especialmente considerando o contexto religioso. O uso do grego pelos evangelistas, portanto, visava alcançar tanto judeus da diáspora quanto gentios, assegurando que o ensino de Jesus fosse compreendido em um mundo multicultural.

No entanto, ao considerar o que Jesus realmente disse, é importante refletir sobre o provável termo que Ele utilizou para paz: o hebraico shalom ou sua forma correspondente no aramaico. Shalom é muito mais do que a ausência de conflito; é uma palavra rica em significado na tradição judaica. Quando alguém saúda outra pessoa com shalom, está desejando não apenas tranquilidade, mas também prosperidade, saúde, plenitude e bênção. Shalom carrega a ideia de harmonia com Deus, consigo mesmo e com os outros, representando um estado de bem-estar completo.

Assim, a paz que Jesus oferece é uma paz integral, profundamente conectada à ideia de shalom. Não se trata de uma paz conquistada pela força bruta ou pelo controle, como a Pax Romana, mas de uma paz que restaura, preenche e completa, trazendo equilíbrio e plenitude. É essa paz, shalom, que os pacificadores são chamados a promover — uma paz que reflete o caráter de Deus e o propósito do Seu Reino. Ao transmitir esse conceito, Jesus desafiava Seus ouvintes a enxergar além da superficialidade da paz mundana e a buscar uma realidade mais profunda e transformadora.

Isso nos permite dizer que ser agente da paz é ser aquele que flui, aquele que promove o shalom, a plenitude de Deus na vida das outras pessoas. Os agentes da paz, ou pacificadores, segundo esse entendimento, são aqueles que vão além de simplesmente evitar conflitos; eles promovem a saúde, a prosperidade e a plenitude.

O texto ainda nos diz que os pacificadores serão chamados filhos de Deus. Eu acredito que essa é a nossa posição dentro do Reino, somos filhos de fato (João 1:12), e por consequência, os agentes da paz que Deus quer enviar a este mundo. E como eu faço isso? A Bíblia nos revela que o evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16). E a justiça de Deus se revela no evangelho (Romanos 1:17). Então, precisamos ter em mente que se queremos levar a paz de Deus para outras pessoas, e se somos agentes de paz, devemos pregar o evangelho a cada uma delas.

Por fim, vale lembrar que essa paz vai permear toda a nossa vida. Precisamos permitir que a verdade do evangelho, da Palavra, seja plena em cada uma das áreas da nossa vida. Precisamos nos julgar para ver se permitimos ou não que a Palavra domine determinada área da nossa vida, e somente assim veremos os resultados da manifestação da paz. Que possamos ser os agentes da paz que Deus espera dos seus filhos.

Rodrigo Silva

Graduado no Centro de Treinamento Bíblico Rhema Brasil - 2010 Graduado na Escola de Ministros Rhema - 2012 Ministro Licenciado AMVV Atualmente congrega na Igreja Verbo da Vida de Campo Grande - Rio de janeiro/RJ

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